A busca por sustentabilidade e a ascensão dos produtos sustentáveis no varejo refletem uma mudança irreversível nas demandas dos consumidores
A sustentabilidade tem se tornado um fator decisivo para a competitividade das empresas no mercado de varejo. A demanda por produtos sustentáveis não é mais uma tendência passageira, mas uma realidade consolidada.
Segundo uma pesquisa realizada pela Nielsen, 81% dos consumidores ao redor do mundo acreditam fortemente que as empresas devem ajudar a melhorar o meio ambiente. Esse movimento se reflete diretamente nas escolhas de compra, com consumidores cada vez mais dispostos a pagar mais por produtos que apresentam compromisso com a sustentabilidade.
Esse cenário não só impacta a forma como as empresas produzem e comercializam seus produtos, mas também com a forma como se relacionam com seus consumidores. Marcas que não se adaptarem a essa nova realidade correm o risco de perder relevância no mercado. Mas o que está por trás dessa ascensão dos produtos sustentáveis no varejo e como as empresas estão respondendo a essa demanda crescente?
A nova geração de consumidores e suas expectativas
Os consumidores de hoje estão mais informados e conscientes do impacto que suas escolhas de consumo têm sobre o planeta. A geração Z e os millennials, em particular, estão à frente desse movimento, exigindo mais responsabilidade social e ambiental das empresas. De acordo com um estudo da Harvard Business Review, essas duas gerações, que juntas representam mais da metade da população mundial, priorizam marcas que promovem práticas sustentáveis.
Isso significa que para essas gerações, não basta que os produtos sejam de qualidade. Eles também devem ser produzidos de maneira ética e responsável, sem causar danos ao meio ambiente e respeitando os direitos humanos, e as empresas devem adotar práticas que contribuam para a redução das emissões de CO². Essa mudança nas expectativas tem forçado as marcas a reavaliar suas operações e adotar práticas mais conscientes e sustentáveis.
Marcas que lideram pelo exemplo
Diversas marcas já estão na vanguarda dessa revolução. Empresas como Patagonia e The Body Shop têm liderado o caminho ao implementar práticas sustentáveis em todas as etapas de sua cadeia de produção. Desde o uso de matérias-primas recicláveis até a adoção de embalagens reutilizáveis, essas empresas demonstram que é possível ser lucrativo enquanto se promove a sustentabilidade.
A Patagonia, por exemplo, vai além ao incentivar seus consumidores a repararem suas roupas ao invés de comprá-las novas, reduzindo assim o desperdício e promovendo a circularidade, aumentando o ciclo de vida do produto. Essa estratégia, embora pareça ir contra os princípios tradicionais de lucro no varejo, tem se mostrado eficaz em fortalecer a lealdade do cliente e impulsionar vendas de maneira sustentável, e também ao reforçar o posicionamento e compromisso da empresa com a sustentabilidade.
Inovações no desenvolvimento de produtos sustentáveis
A ascensão dos produtos sustentáveis também está diretamente ligada ao avanço das tecnologias verdes. Empresas têm investido em inovação para desenvolver novos materiais e processos de produção que reduzam o impacto ambiental. Um exemplo disso são os bioplásticos, que são produzidos a partir de fontes renováveis, como o amido de milho ou a cana-de-açúcar, em vez de petróleo.
A Adidas, por exemplo, lançou um tênis feito inteiramente de plástico reciclado retirado dos oceanos. Esse tipo de inovação tem o potencial de transformar não só a percepção do consumidor, mas também a própria indústria, ao demonstrar que é possível criar produtos de alta qualidade com materiais reciclados.
Além disso, a pesquisa da Ellen MacArthur Foundation destaca que a economia circular — um sistema onde os produtos são reutilizados, reciclados ou regenerados — pode gerar US$ 1 trilhão até 2025.
O Brasil é um grande pólo de inovação no desenvolvimento de produtos sustentáveis, como embalagens biodegradáveis feitas com matéria-prima da biodiversidade como a fécula da mandioca.
Adoção de práticas de economia circular
A economia circular é uma das práticas mais promissoras para o futuro do varejo sustentável. Em vez de seguir o modelo tradicional de produção linear, onde os produtos são feitos, consumidos e descartados, a economia circular propõe a reutilização dos materiais ao máximo, prolongando o ciclo de vida dos produtos e reduzindo o desperdício.
Empresas como a IKEA estão adotando essa abordagem, oferecendo programas de recompra de móveis antigos para que possam ser reformados e revendidos, promovendo a reutilização ao invés do descarte. Isso não apenas diminui o impacto ambiental, como também cria novas oportunidades de receita e fidelização de clientes.
O papel do varejo na educação e conscientização dos consumidores
Embora a demanda por produtos sustentáveis esteja crescendo, ainda há muitos consumidores que não estão plenamente conscientes dos benefícios dessas práticas. Cabe às empresas varejistas o papel de educar seus consumidores sobre o impacto positivo de suas escolhas e como elas podem contribuir para um futuro mais sustentável.
Grandes redes de supermercados, como o Carrefour, têm investido em campanhas de conscientização para educar os consumidores sobre a importância de reduzir o uso de plásticos e preferir produtos com embalagens recicláveis. Além disso, algumas empresas oferecem incentivos financeiros, como descontos ou programas de fidelidade, para consumidores que optam por produtos sustentáveis.
O poder da transparência
A transparência é um dos fatores mais importantes para conquistar a confiança dos consumidores. De acordo com um estudo da Label Insight, 94% dos consumidores dizem que são mais leais a marcas que oferecem total transparência sobre seus produtos e processos. Isso inclui informações sobre a origem dos ingredientes, métodos de produção e o impacto ambiental das operações da empresa.
Empresas que adotam a transparência como um valor central têm mais chances de construir uma base sólida de consumidores fiéis. A marca de moda Everlane, por exemplo, ganhou notoriedade ao adotar o conceito de “transparência radical”, onde divulga todos os custos envolvidos na produção de cada produto e o impacto ambiental associado a ele.
Os desafios de implementar a sustentabilidade no varejo
Apesar do crescente interesse e da demanda por produtos sustentáveis, muitas empresas ainda enfrentam desafios significativos para implementar essas práticas de forma ampla. O custo inicial de investir em materiais sustentáveis e tecnologias verdes pode ser alto, especialmente para pequenas e médias empresas que operam com margens de lucro apertadas.
A falta de regulamentação uniforme em torno de rótulos e certificações sustentáveis pode confundir os consumidores e dificultar a escolha consciente. Segundo o World Wildlife Fund (WWF), mais de 50% dos rótulos de produtos verdes não seguem padrões claros, o que gera desconfiança por parte dos consumidores.
Para que essa transformação seja completa, as empresas devem não apenas oferecer produtos sustentáveis, mas também adotar uma abordagem holística que inclua a transparência, a educação do consumidor e a inovação constante. Também é importante engajar todos os steakholders e a cadeia de valor para que adotem práticas sustentáveis e se adequem às legislações ambientais vigentes. Somente assim o varejo poderá se adaptar às novas expectativas e prosperar em um mercado cada vez mais orientado para a sustentabilidade.
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